4 de fev. de 2013

que o meu deus te perdoe


Acabo de assistir à entrevista histórica de Marilia Gabriela com Silas Malafaia (abaixo). Quer dizer, meio assisti. A partir de um determinado momento, não tive estômago mais e precisei ir pra cozinha lavar louça, descontar nas panelas o meu desconforto, ouvindo o resto de longe. De todo modo, nunca consigo ouvir Silas Malafaia muito tempo.

Malafaia é, evidentemente, um mentiroso profissional. A convicção com que ele expõe suas teses - como quando ele afirma que "nenhuma verdade científica [sic] da Bíblia jamais foi refutada" ou que "desde o tempo de Noé, desde quando Deus mandou o dilúvio, existe homossexualismo [sic]", como se o "tempo" de Noé tivesse caráter histórico e não simbólico; como quando ele se refere a "pesquisas científicas" sem citar suas fontes e distorcendo conclusões; e tenho certeza de que ele não é tão ignorante assim - a convicção com que ele expõe suas teses é uma aula de retórica muito bem calculada. O sujeito é a encarnação da má fé, infelizmente sem nenhum trocadilho.

Como bem apontou um grande amigo, "o mais estranho é pensar que o Malafaia, de fato, representa uma parcela da população brasileira. Gente que compra seus livros, que vota nele. Quanto ao discurso nada de novo: sofisma sobre sofisma (...). Marília podia ter falado da posição de órgãos de psicologia e psiquiatria aqui e dos EUA para combater a pretensa base de psicólogo dele. Sem falar da teologia. Ou seja, numa conversa real, sem gritarias e respeitando o direito de interlocução, nada se sustenta na argumentação do cara. A questão é que esse segmento que ele representa não está minimamente interessado num diálogo real."

O fato é que estou há meia hora com meus pêlos arrepiados. Uma reação de bicho diante de um perigo que lhe ameaça a vida. E não dão nem sinal de baixar.

Quanto a Marília Gabriela... como bem salientou Tony Goes em seu blog, se eu já gostava dela como profissional, hoje ela conquistou um grau de respeito que poucas pessoas me inspiram. Não deve ser nem um pouco fácil discutir com Malafaia, que usa com maestria uma série de técnicas de discurso (como, por exemplo, elevar o tom de voz e despejar um discurso verborrágico, alinhavando argumentos pífios e falhos sem dar tempo para o interlocutor reagir), sobretudo com o tempo restrito de um programa de televisão. Achei sua contra-argumentação muito, muito fraca; ainda assim, no contexto estéril desse deserto que é, hoje, a grande mídia brasileira, ver uma mulher peitar um sujeito da índole do Malafaia foi um alento, um raio de esperança.

Ouvi-la terminar a entrevista dizendo "que o meu Deus, que não sei se é o mesmo que o seu, te perdoe", foi arrebatador. Mas preciso confessar: sem nenhuma apologia à violência, o que me lavou a alma MESMO foi ela dizer pro público que tinha vontade de bater nele. ;-)



Leia também: Malafaia e os que se deixam pautar por ele (aqui), Ainda a teologia da estupidez (aqui), Conselho Federal de Psicologia repudia declarações de Silas Malafaia (aqui) e Carta a Silas Malafaia: Pastor, me ajude! (aqui)
Assista ao vídeo em que a jurista Maria Berenice Dias responde à entrevista de Malafaia (aqui)

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